3. Aprendendo a Empreender
A iniciativa profissional, em qualquer campo, exige competências que precisam ser desenvolvidas. O homem – segundo a socióloga Argentina Claudia Jacinto – nasce duas vezes: a primeira, quando sai de dentro da mãe. Nesse momento, se nasce para a família e para a população. O segundo nascimento ocorre na adolescência: a pessoa em desenvolvimento nasce para si mesma e para a sociedade. Nesse segundo nascimento, três instituições emergem como fundamentais: a família, a escola e o trabalho. Para os jovens integrados econômica e socialmente, a família funciona como uma rede de proteção. Ser que se procura e se experimenta nos vários domínios da existência em sua caminhada para o mundo adulto, este jovem encontra na família um anteparo efetivo e poderoso. Já com os que estão excluídos social e economicamente passa-se o contrário. É o núcleo familiar que passa a contar com sua ajuda como parte de sua estratégia de sobrevivência. Com a escola passa-se algo semelhante. Para os que estão mais integrados, ela é o centro, o eixo estruturador de suas vidas. Para os jovens em desvantagem socioeconômica, a escola é uma presença secundária, pois, como já vimos, o compromisso principal desses jovens já não é mais com a atenção e, sim, com a luta pela sobrevivência. E o trabalho para os jovens integrados é projeto: orientação vocacional, escolha do vestibular a ser prestado, da carreira a seguir. Para o jovem em desvantagem, não: o trabalho torna-se eixo ou elemento central de sua vida. Se perguntarmos a um Office boy o que ele é, certamente sua primeira resposta, mesmo que ele estude à noite, não será estudante. Adolescência, porém, é uma fase determinante. Nela, o jovem avança, aos poucos, sob duas construções socioexistenciais da maior importância: a da identidade e a de um projeto de vida. Na formação da identidade, ele deve aceitar a si mesmo e se compreender, condições vitais para a aquisição de auto-estima, autoconceito, autoconfiança e visão desejante em face do futuro. Essas conquistas criam as condições básicas para efetivação de um projeto de vida, ou seja, do caminho a ser percorrido entre o ser e o querer ser na vida de cada pessoa. A melhor definição do jovem bem sucedido nisso (identidade e projeto) que encontrei está na letra do samba “Aquele Abraço”, do atual ministro da cultura, Gilberto Gil: “Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço, a Bahia já me deu, graças a Deus, régua e compasso”. “Meu caminho pelo mundo” é, justamente, o projeto de vida traçado pelo próprio jovem. A “Bahia” é a educação que recebeu, as influências construtivas que sobre ele foram exercidas pela família, escola, comunidade e os meios de comunicação. A “régua” é o instrumento que ajuda a unir dois pontos: o caminho entre o ser e o querer ser na vida de cada um. E, finalmente, o “compasso”, que desenha a figura de 3.600, serve como símbolo de uma visão do todo. Vê-se, portanto, que o jovem que queremos ver é aquele capaz de fazer escolhas fundamentadas, analisar situações e tomar decisões diante delas. A expressão “graças a Deus” funciona como abertura à dimensão transcendente da vida: crenças, princípios, valores, convicções profundas, que servem de bússola ao ser humano nos momentos difíceis da vida. Esse é o perfil de um jovem empreendedor. Ser empreendedor – mais do que apenas abrir um negócio próprio (dimensão muito importante do empreendedorismo, sem dúvida alguma) – é ter sonhos e ser capaz de trabalhar e lutar para transformá-lo em realidade, quer abrindo um negócio, construindo uma carreira vitoriosa em uma empresa, numa organização pública ou numa organização social sem fins lucrativos. O importante é que o jovem transforme seu potencial em habilidades, competências e capacidade e as coloque a serviço de sua visão de si mesmo e do mundo, empenhando-se em concretizar seus sonhos. Na formação de um jovem empreendedor, vale muito mais o que ele é do que ele sabe. Por isso, é importantíssimo construir itinerários formativos capazes de desenvolver competências em termos de habilidades básicas e de gestão, como:
* Analisar uma situação em seus diversos ângulos; * Propor soluções e avaliar soluções propostas por outras pessoas; * Comunicar-se com pessoas e instituições fora de seu mundo cotidiano; * Tomar decisões fundamentais sobre qual curso de ação seguir em face de uma determinada situação real; * Planejar e aprender a lidar com pessoas, tempos, materiais e recursos financeiros; * Administrar o próprio tempo, aprendendo a dividir-se entre atividades de natureza distinta; * Dar e receber instruções, ordens e orientações; * Liderar e deixar-se liderar; * Criticar e ser criticado; * Coordenar atividades em grupo; * Aceitar diferentes pontos de vista e interesses; * Improvisar diante de situações imprevistas, agindo de acordo com os princípios, valores e interesses de seus grupos; * Discernir os valores implicados e vividos em uma determinada situação; * Buscar coerência entre teoria e prática; * Exercitar a transparência no uso dos recursos grupais; * Prestar contas de seus atos ao grupo, aos destinatários de suas ações e a seus educadores; * Assumir as conseqüências de suas ações positivas e negativas; * Desenvolver a tolerância para com as falhas e limitações humanas; * Aprender a lidar com êxitos e fracassos; * Decidir em grupo de forma democrática; * Desenvolver o espírito solidário e ação cooperativa.
Finalmente, a essas habilidades deverão ser acrescentadas aquelas especificas requeridas para o exercício de uma ocupação, serviço ou profissão no mundo do trabalho. Na medida em que formos capazes de atuar nesta linha para e com os jovens, estaremos contribuindo para a formação das pessoas, dos cidadãos e dos profissionais de que o Brasil necessita para dar certo. *Antônio Carlos Gomes da Costa é pedagogo, consultor especialista em juventude, desenvolvimento social e ação educativa, autor de vários livros sobre esses |